quinta-feira, 23 de julho de 2009

O poeta e a rosa

O poeta e a rosa

Ao ver uma rosa branca

O poeta disse:Que linda!

Cantarei sua beleza

Como ninguém nunca ainda!

Qual não é sua surpresa

Ao ver, à su oração

A rosa branca ir ficando

Rubra de indignação.

É que a rosa, além de branca

(diga-se isso a bem da rosa...)

Era da espécie mais franca

E da série mais raivosa.

_Que foi?_balbucia o poeta.

E a rosa:_Calhorda que és!

Para de olhar para cima!

Mira o que tem a teus pés!

E poeta vê uma criança

Suja,esquálida e andrajosa

Comendo um torrão de terra

Que dera existência à rosa.

_São milhões!_a rosa berra

Milhões a morrer de fome

E tu, na tua vaidade

Querendo usar do meu nome!...

E num acesso de ira

Arranca as pétalas, lança-as

Fora, como a da comida

A todas essas crianças.

O poeta baixa a cabeça.

_É aqui que a rosa respira...

Geme o vento. Morre a rosa.

E um passarinho que ouvira

Quietinho toda a disputa

Tira do galho uma reta

E ainda faz um cocozinho

Na cabeça do poeta.

(Vinícius de Morais)

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